Tuesday, March 25, 2008

Pax

Não tenho paz dentro de mim
Vivo o tumulto constante
Exigência extrema da existência
Queria deitar-me e encontrar abrigo
Um lugar seguro no meio da imundice
Procuro em vão

Quero a paz que não tenho
(Feliz aquele que dorme à noite!)
Anseio pela paz que não tenho
(Feliz aquele que ignora o mundo!)
Admiro os virtuosos que a alcançam

A fúria histéria da raiva que me consome
E tenho em mim lutas e sangue
De umas outras batalhas que não planeei travar
Que não se existem sequer

Toda a minha génese é um conflito auspicioso
Interminavelmente hediondo, profano
Contra tudo, especialmente contra mim
Enveneno-me a mim mesma em busca de solução

A minha vida é uma sátira bélica
E eu sou o objecto da comédia

Hálito a sangue

Quis ocupar um lugar que não era o meu
Por perniciosidade e capricho
De conquistar o inconquistável.
Esta é a verdade.

A mentira foi o que te disse.
Disse-te que mudei.
Disse-te que antes era infeliz.
Disse-te que vivia torturada.

Não me livrei da tortura
Simplesmente troquei o objecto da mesma
Por ti.

E assim entrei na tua vida
Planeadamente a uma Quinta-Feira
Tal e qual como fiz na vida de tantos outros
Que acabei por matar.

Deixei que me prendesses os pulsos
Deixei que me cortasses as asas
(já de si rasgadas até mais não)
Deixei que colocasses na minha boca o freio da fidelidade

Quando me apercebi que era hora de me ir embora
Percebi também que já era tarde demais para me pôr ao caminho
A vivência gera sentimentos
E o tempo cria memórias

Ai.... mas agora dói!
Olha os meus pulsos macerados!!
(Ou me tiras as amarras ou finarei em breve)
Olha as minhas asas negras esplendorosas!!
(O tempo fê-las crescer mais fortes)
Tira-me já o freio dos dentes!!!
O sabor a sangue está-me a enlouquecer.
LIBERTA-ME!!!!
Raivosa eu grito, eu quero fugir!
Sê sábio, liberta-me!

Sabes que se me libertares cairei em desgraça de novo
Sabes que preciso de ti, pilar da minha existência!
Sabes que a tua calma é tudo o que me resta...
Mas também sabes que passeias na rua um demónio encarcerado
Embora julgues que o vais domar
Não se pode domesticar o que nasceu para ser selvagem
Não podes trazer luz ao que nasceu da escuridão
Admiro-te tanto por tentares
Quero tanto que consigas
Mas o sabor do sangue da minha boca
Não me deixa
E está-me a enraivecer...

Por isso liberta-me
É melhor que liberte e não me solte
Porque se me soltar
Com este sabor a sangue nos meus lábios
E as chagas do freio que aceitei levar
Serás o primeiro a morrer!

Como um pedófilo inveterado e arrependido
Pede pela castração química
Foi assim que eu pedi por este freio!
Só o quis e to pedi
Porque sabia que antes pecava
Pois por minha natureza, por minha vontade, necessidade e satisfação
Continuaria a matar.

Não tenho forças para me libertar
Ardo em ira por me ter deixado chegar até aqui
Sou presa desta compulsão
Tenho vergonha do que sou
Por isso volta a cortar-me as asas
Aperta melhor esse freio
Não quero que vejas aquilo em que me tornei
QUE FRACA! ESTOU TÃO FRACA!

Não.
Está tudo ao contrário.
E não quero que vejas isto...
"Eu amo-te. Se me amas desamarra-me..."
Agora fecha os olhos
E PREPARA-TE PARA MORRER!

Predadora

"Sou uma merda.
Um balde de merda."

Nasci com alma de predadora
E não consigo extingui-la
Banho-me em culpa
Vítima da minha protoconsciência

Guerreio comigo mesma
Para atenuar a gana que me move
Mas sem ela paraliso, estagno
E começo a desejar a morte...

Quero fugir da condenação ao tédio
Sou gravemente alérgica ao banal quotidiano
E os ferrolhos que coloquei na alma
Comem-me por dentro como uma doença auto-imune

No entanto recuso-me a aceitar
Aceitar seria admitir-me doente
Cronicamente doente, sem cura à vista
E recuso-me!

Construí uma jaula interior
Para a besta que me faz magoar
E agora o mundo está mais assustador
Desde que sinto que ela se vai soltar

Porque um padre lá por deixar de dizer a missa não deixa de ser padre...