Aliciante...

Aliciada pela promessa de um orgasmo fácil
Eu entrego-te o corpo e os sentidos
O que há em mim de mais dócil
Escorre por entre dedos perdidos

E eu vou, entrego-te o corpo e os sentidos
E aparentemente calma
Por entre uns ais e gemidos
Eu deixo-te tocares-me a alma

E tocas-me a alma como nunca senti
Dás-me tudo o que peço
E eu peço mais de ti
E nunca me canso, confesso

"Porque se tu fores uma loja de gomas eu quero ser um puto de sete anos!"

Desabafo intermitente (carta raivosa)

Caros amigos, companheiros da passagem por esta vida terrena.
Hoje tenho algo a dizer-vos.
Tenho a dizer-vos que hoje é o tal dia.
Hoje é o tal dia no ano em que estou cansada.
E como hoje é o tal dia especial tenho umas quantas coisas a confessar-vos.
Encarem isto como uma espécie de desabafo.
Eu não sou desequilibrada, nem maluca, nem algo que se pareça.
Digo isto porque já me questionei várias vezes sobre o assunto e não, não estou demente.
Estou só cansada.
Para encetar conversa, estou cansada das vossas mentiras ridículas.
Querem-me mentir, tudo bem! Mas mintam-me com estilo, de forma a enganar-me. Mintam-me com astúcia! Afinal, ando aqui há uns aninhos e enganar-me não é fácil. É que sinto-me mesmo vítima de chacota quando me mentem! Porque, pensei eu na minha inocência, merecia mentiras mais bem construídas, nem que fosse por consideração!
Estou cansada da vossa prepotência e das vossas exigências.
Eu não tenho de obedecer a um conjunto de regras construídas pelo vosso agrado! Não me peçam para estar num local, que sabem que não vou estar, não me peçam tarefas que, sabem à partida, não irei executar!
Eu sou livre, e vocês não são apêndices do meu corpo, nem sequer da minha consciência, muito menos das minhas acções!
Estou cansada dos vossos testes.
Eu não tenho de vos provar nada! Nem a vocês nem a outra alma viva senão a minha mesma pessoa. Eu não tenho de vos dar satisfações do que faço, nem demonstrações da vossa importância na minha vida. Aqueles que são realmente importantes dispensam esse tipo de provação.
Estou cansada dos vossos comentários.
Eu faço o que eu quero, quando eu quero, como eu quero e com quem eu quero... Habituem-se a essa ideia. Não podem chegar e comentar a minha vida como bem vos apetece, o meu destino não está ao vosso dispôr. Deixem-me viver a minha vida. Eu tenho uma e estou feliz!
E não pensem que o uso e abuso sistemático de narcóticos, me acabou com a massa cinzenta!
Não queiram brincar com a minha cabeça!
Vocês adoram rotular tudo o que vos rodeia e no final acabar a dar palpites na minha vida, como se eu realmente tivesse pedido uma opinião vossa!
É por isto que estou cansada.
Quero que saibam que muitos de vocês dão-me pena!
Pena por não conseguirem viver das próprias vidas e se quererem alimentar da minha!
Pena pela vossa incapacidade de serem (não felizes) mas contentes!
Pena pela merda de pessoas que uns se vão tornar dentro de uns anos e outros porque não se vão tornar nada mesmo!
Pena por estarem sempre à espera de um movimento em falso. Se eu caí por um momento peço desculpa. Vocês estão a tratar de nunca se levantarem.
E eu já fraquejei, mas ninguém me viu as lágrimas.
E eu já voltei atrás, mas ninguém compreendeu o sentimento que me levou a fazê-lo!
E eu agora ando para a frente, e ninguém dá um empurrãozinho para cima, só para baixo!
Poupo-vos o mau agoiro, confirmando: sim eu vou-me estampar!
Sim, falhar com todas as forças e ir de encontro à parede mais dura da existência!
Não se esforcem por me corromper, apenas esperem. Eu hei-de lá chegar! E tudo mérito meu! Sem a ajuda de ninguém!
E hoje como é o tal dia.
Estarei na presença de três pessoas diferentes que, por feliz acaso, não estão incluidas no meu grupo de amigos.
Porque estou cansada de todas as outras!
Estou cansada de estar constantemente rodeada por pessoas amargas, que fingem entender aquilo que me move, que se mordem por uma oportunidade, que só pensam egoistamente em si mesmas!
Eu nunca fui egoísta, fui individualista.
E mais nenhum, ( nem um!) de vocês, me voltará a dizer seja o que for, se voltará a meter naquilo que eu faço, me voltará a deixar mal!
Acabaram-se as oportunidades, a tolerância e a condescendência!
Basta!
Hoje é o tal dia!
O tal dia que o meu mundo se torna insuportável.
Porque vocês, com o vosso acumular de ideias imbecis, o tornaram insuportável!
Quando desperdiço o meu tempo a ouvir o nada vazio que vocês têm para me dizer, só me apetece chegar a casa e suicidar-me! Vocês sugam a vitalidade a tudo aquilo em que tocam!
Não me tentem compreender. O prazo para isso já expirou!
Só me despeço de vós com um desejo: vivam! Vivam muito e vivam bem! E deixem-me a mim viver também!

Porque hoje é o tal dia!

Memória transformada

Aquela viagem feliz parece-me agora um sonho bom...
Aquele momento único já chorou o que tinha a chorar e voltou a ser ele mesmo... único.
Tranformou-se.
A memória transformou-se.

O tempo passado nessa casa...
Tomou um outro sagrado valor.
O valor da experiência.
Tranformou-se.
A memória transformou-se.

A ira que me revolvia o íntimo.
Dissipou-se em cores de verde azulado.
E transformou-se.
A memória transformou-se.

A amarga melodia do ódio, da mágoa, do ressentimento
Já não martela mais o meu estribo e bigorna.
Desvaneceu-se na incerteza de outro corpo.
E tranformou-se.
A memória tranformou-se.

Todas as recordações
As mais subtis, as mais apaixonadas, as mais cruéis
Perderam o efeito nocivo em mim...
Tenho a memória transformada!

Rotação insana

Um sorriso maroto
E o jogo começou...mais uma vez...
Gira e cessa...

Sempre o mesmo?
Não. Não naquele dia.
Mais suave.
Mais atento.
Mais matreiro.

E gira...
Gira, mas não cessa...
Gira à velocidade da luz
Relação proporcional tempo/velocidade
Rotação insana

Corre-me nas veias
Corre-me nas veias e passa
Sinto o estalo nos ouvidos
Adivinho-lhe os tons carmins
De paz
De gratidão
De ternura

Descansa-me a alma
Cansa-me o corpo
Desperta os sentidos
Adormece o frio

Feliz narcótico das sensações puras
Giras, giras, giras...
Mas não cessas nunca!

Asqueroso!

Asqueroso...
Nem sequer me dirijas a palavra.
Só sinto por ti asco!

Asqueroso de merda!
Não me tentes beijar!
Afasta-te de mim!
Dás-me asco!

Asqueroso...
O teu toque repugna-me...
O teu hálito repugna-me...
As tuas mãos repugnam-me...
Não...
Não te aproximes de mim!

És um asqueroso descartável!
Só me apetece cuspir-te na cara!

"Inside my shelt I wait and bleed"

Cientista Louco

Cientista Louco, leva-me contigo!
Não me importo com os químicos.
Leva-me só contigo!

Cientista Louco, esse teu sorriso!
Não me temas, se caires eu estou aqui.
Dá-me essa tua mão cansada!

Cientista Louco, não me subestimes!
Sou capaz, tu sabes que sim!
Incondicionalmente!

Cientista Louco, eu adoro-te!
Pela tua loucura!
Pela tua liberdade!

Cientista Louco, faz de mim o teu químico por excelência!

"Call it sick I call as good as it gets!"

Inconsciente e inconsequente

Eu provoco-te!
E puxo-te!
E trago-te comigo, se for necessário!

Sou tão inconsciente, eu sei!

E eu beijo-te!
E eu abraço-te!
E faço-te rir!

Que inconsciente!

Em todos esses gestos, cometo a ousadia inconsciente, de sentir que és aquele com quem passaria os restantes dias do meu mundo.
Porque quando encosto a minha cabeça no teu peito, e oiço o ritmo do teu coração, reparo que ele bate em uníssono com o meu.
Adorar-te é ser inconsciente!
E inconsequente!

"I'll be all you need and more!"

Too late!

Agora rasteja...
Rasteja que só te dá saúde!
Adoro ver-te rastejar.
Primeiro que tudo porque é uma surpresa ter-te a ti, de rastos.
Depois porque realmente sabe bem.

Eu não caio em jogos patéticos de manipulação.
Inverteu-se o teu jogo não foi??
Diz-me só... dói muito?
O meu desprezo dói muito?
Espero bem que doa.

Só para que fique registado:
ignorei-te sem querer.
Juro que não foi propositado.
Mas já que está a surtir este efeito, porque não aproveitar?
Tu eras importante para mim!
Tão importante, meu paspalho!
Se eu também era importante para ti porque é que fingiste o contrário?

Ai! Agora sinto aquele prazer... sabes??? Aquele muito mesquinho!
Aquele prazer de quem foi rejeitada e agora vê a pessoa que a rejeitou a rastejar por um lampejo de atenção!
Sabe tão bem!
Sabe mesmo bem!

Mas agora já vens tarde!
Eu jamais voltaria atrás por ti!

"Too late my friend... Too late!"

Vinga-te!

Disseste, um dia bastante sorridente, que se não fosses tu, eu não estava assim... o animal que sou agora.
Como se aquilo que eu me tornei fosse algo de resplandecente e magnífico.
Como se o ser nojento e bestial em que me transformei trouxesse algum bom augúrio!
Mas não é disso que te quero falar.
Porque gosto muito daquilo que sou. Amo-me até demais!
O que eu te quero dizer é que falhaste.
Falhaste quando, por uma ousadia mais vespertina, decidiste pensar que eu seria tua.
Nunca fui tua. Não o sou. Nunca o serei.
Querias resumir a minha vida à tua e por momentos quase que o conseguiste.
Quiseste governar a minha vida pelo terror.
Mas não te temo.
Sei que o teu próximo passo será vingares-te.
Vês? Até nessa merda já estás previsível. Ou não fossemos nós as almas gémeas do costume!
Mas eu dou-te o meu apoio, mesmo que me vás foder pelas costas (e acredita que sei que estás prestes a concretizá-lo!).
Vinga-te de mim!
Vinga-te com toda a ira, com todo o ódio, com toda a raiva, ciúme e cobiça que te corroem por dentro.
E eu farei da tua vingança um hino à minha glória.

Eu, a tua aclamada infame obra, só tenho a dizer-te:
"Dizes que me fabricaste... Então orgulha-te de mim!"


"Olho por olho, dente por dente, braço por braço, vida por vida..."

Eu vivi um dia...

Ontem foi a noite mais bonita da minha existência...
Nunca tinha querido estar tanto num sítio, e conseguir praticá-lo na perfeição.
"Um homem que viva um dia pode pensar nesse dia o resto da sua vida".
Ontem à noite eu vivi.
Eu vivi nos teus olhos, na tua pele, no teu toque...
Se o Nirvana existe, acho que acabei de atingi-lo.
És-me mais familiar do que aquilo que era suposto seres.
Aninhar-me no teu peito é o descanso da minha alma em chamas.

Quando a manhã chegou, temi.
Temi, porque sei que com a manhã termina a magia.
Mas não contigo.
Acordei, beijei-te, vesti-me, beijei-te, beijei-te e tornei a beijar-te.
E nunca antes tinha sentido tal sacrifício por sair da cama de alguém.

Hoje o meu fantasma assombrou a tua casa.
Preso ao teu cheiro, preso a um momento, preso a uma expressão...

Não te vou prender.
Gosto demais de ti para isso.
Mas, feliz ou infelizmente, tu já me prendeste a mim...



"Don't be surprised if I love you for all that you are... I coudn't help it, it's all your fault!"

Arte

O primeiro requisito para que arte seja realmente arte, é que esta seja inútil.
O que a princípio não passaria de um modo utilitarista de passar o tempo com alguém, transformou-se subitamente em arte, assim que perdeu a utilidade inicial.
Só um grande artista consegue tornar bonito tudo aquilo que o rodeia.
E tu, com esse dom, estás-me a reconstruir a parede do miocárdio, pouco a pouco.
E o frio dentro de mim começa-se a dissipar.
É estranho voltar a sentir isto.
Eu não devia...
Tu, supostamente, não devias ter ficado, e se devias, então eu não sabia.
Estou a ser estúpida.
Porque quero acreditar que as tuas palavras "Tu não te podes apaixonar por mim, miúda!" tenham sido uma mera brincadeira.
Porque se não foram, só te posso responder: "Azar! Agora já está!"

"You treat me like I'm a princess... I'm not used to liking that... You ask how my day was..."

Uma nova casa...

Um abraço...
...e a dor esvanece-se.
Uma nova casa...
...e o mundo perde o interesse.
E tudo o que interessa encontra-se no corpo de um outro alguém.

Eu entro.
Tu sorris e abraças-me.
E eu reconheço o teu cheiro e a força com que me abraças.

Sento-me ao teu lado.
Dás-me a tua mão.
E a tua alma pega na minha ao colo e leva-a para o quarto.

"É amor? Não! É uma coisa mais bonita ainda!"

Senhor Abismo

Senhor Abismo, diga-me...
...quer-me?
Senhor Abismo, é aí que devo ficar?
Senhor Abismo, eu sei que me quer...
... mas também sei que não é aí que devo ficar.
Senhor Abismo...
... não sei se me vai ter!

"If you want me come find me"