Monday, December 8, 2008

Cavalheiro em palco

Cavalheiro em palco
E eu presa pelas asas
A olhar para cima
A decifrar uma maneira de voar

Acorrentada à Moral
Ignorei o cavalheiro em palco
Mas depressa pensei bem alto
Nunca desistir com pressa tal

E com a minha vontade a ganhar
Eu pensei de mim para mim
"Lá vou eu caçar o jantar...
Nunca vi oblíquo assim!"

"Aos cavalheiros da linha da frente (...)"

Friday, December 5, 2008

Sou de ningúem

Percorro a via errada
Como se tivesse sido obrigada
A desviar o meu caminho
Pois a estrada que pretendia
Foi amavelmente cortada
Por outro alguém que não eu

Vivo num estado onírico
Não estou bem, nem estou mal
Não estou coisa nenhuma
Porque sou de ninguém

Orgulho-me de ser só minha
Neste egoísmo niilista em que mergulhei
Onde saber nadar não adianta
Pois ninguém me ensinou a contrariar o Destino

Por ser a besta de ninguém
Acabarei sozinha
Sozinha e livre
Com aquela liberdade que a nada sabe
E que no entanto é gozada
Porque é minha e não a partilho

Sou de ninguém
Soa quase como uma sentença
Ninguém me possui
E eu! Que sempre fui propriedade privada de outrém...
...vejo-me agora livre

Sou de ninguém
E tenho sequelas
Aquelas que não me permitem amar

Sou de ninguém
Porque já ninguém me prende

Os corações alheios
Finam em mim
Porque eu... eu sou de ninguém

Nasci selvagem...

Crise existencial da inquietude

É como dissipar...
Como se a essência do que me mantém
Tivesse simplesmente partido
E penso em Lavoisier
E que nada se perde, tudo se transforma
Não sei no que me estou a transformar
Só sei que não gosto
O caminho certo sabe mal
O meu espírito repudia a rectidão
Nasci do esterco
É a lá que pertenço
Quero-me de volta
Preciso-me de volta

Alguém me desencaminhe por favor!

Eu não fui feita para ser boa
Eu não fui feita para perder

E cansada eu anseio pelo vício
Quero os meus pecados de volta
E recometê-los um a um
Tiraram-me das Trevas
E esta Luz está-me a cegar
Eu não estava preparada...
Quero a minha escuridão
Ela corre-me nas veias
Está-me na genética
Entranhada na hélice de ADN

Esta coisa que me vejo
Não sou eu! Este ser tão... pobre!
Eu respiro pernícia
Sou de origem malévola

Talvez a minha casta estivesse podre...

Thursday, September 11, 2008

Cavaleiro do abismo

Ao caminhares tão perto
do abismo
Desafias o destino
Que aterroriza todos aqueles
Que te observam.
Adoras o arfar
Da multidão,
O bramido no ar,
O terror que causas,
O furor que provocas,
A histeria aumenta.
O pânico, a tensão, o terror...
Ele cairá?
Ele atrever-se-á?
Ele morrerá?
Conseguirá?
São?
Salvo?
Ou ensanguentado?

Andas perto do abismo
Desafias o abismo,
Zombas do Destino
Pões em risco os nossos corações,
E a tua vida,
E a que preço?
Glória?

Gentilmente cedido por uma grande amiga e postado à memória dela...
Ao que parece ela conhecia-me melhor do que eu...

Monday, July 14, 2008

Mascarado

Finge que estás feliz...
Dou-te esse privilégio.
Qual? O de não te desmascarar.

Aparece em público a sorrir
Vá não te apoquentes!
E eu finjo que não estás a fingir...

Vai, faz de conta que te banhas em glória
Porque eu sei (e tu também)
Dessa tua triste história.

Oh coitado de ti, que ao dó atentas
Sei que estás miserável e só me rio
Porque o ser inantingível, forte e frio
Não passa de um papel que representas.

Thursday, July 3, 2008

Banalizar o conceito: nova técnica de defesa do Ego

Acredite-se ou não, os traidores são aqueles a quem a traição mais dói.
Então porque traem eles?
E porque continuam eles a trair?
Porque pensam que ao banalizarem a situação aliviam a carga dolorosa da mesma...

"Traíste-me e então??!! Já o fiz milhões de vezes!"
É tão insignificante não é?

Mostrem-me coisas novas!

Monday, June 30, 2008

"Agarrada pelo cachaço"

Ele escolhe
Ela submete-se

Ele vive
Ela sobrevive

Ele decide
Ela subordina

Ele manda
Ela finge que não faz

Ele fala
Ela finge que não ouve

Ele magoa
Ela finge que não dói

Ele mata
Ela finge estar viva

Mas quando a vêem
(e olhar não é o mesmo que ver)
Comentam para dentro
"Lá vai mais uma agarrada pelo cachaço!"

Ele justifica-se com um contrato.
Ela justifica-se com o amor...

Thursday, June 5, 2008

Fénix

Altiva na noite ela sossega
Fénix de nome amaldiçoada
Traz nas cinzas raiva cega
E renasce já irada
Estica as penas inflamadas
De promiscuidade vulcana
E com labaredas desvairadas
Ela mata aquilo que ama
Com as coisas amadas extintas
Volta a Fénix ao descanso
Mas dizem que de quando a quando
Renasce a Fénix das cinzas
Para devorar pela chama
Tudo aquilo que ainda ama...
"I'm gonna burn in Hell but not without you by my side!"

Gently murdered

Arrepiei caminho e deixei-te para trás
O meu egoísmo forçou-me a escolher
Não à falta de te amar
Mas porque não vi opção senão correr...

O presente triste e sorridente
Espelha o passado choroso e contente.

E eu continuo a ver-te porque tu não sais da minha frente
Eu continuo a ouvir-te porque tu não páras de gritar por mim
Eu continuo a sentir-te porque nunca paraste de me tocar
Eu continuo a ter-te porque nunca saíste de dentro de mim

Fazendo escolhas...
Só assim sei que estou viva!

Quando aquilo que amo
Não é aquilo que me faz feliz
Então resta-me escolher a felicidade.

Ainda que a saudade me morda...
Ainda que as dores sejam lancinantes...
Ainda que sejas TU a pedir-me...

Não voltarei ao local onde fui gentilmente assassinada pela tua pessoa!

"There's a curse between us...between me and you!"

Tuesday, May 20, 2008

Diamantes lapidados...

Há pessoas que quando encontram diamantes, ainda em bruto, apaixonam-se por eles, pelo seu valor. E mandam lapidá-los para que estes adoptem a forma que mais lhes agrada. Então depois de lapidado, o diamante ganha uma forma completamente diferente da anterior: fica brilhante, resplandecente e, acima de tudo, o seu valor aumenta perante aqueles que o observam.Mas este diamante lapidado, já não é o diamante original, mas sim o reflexo da pessoa que o encontrou. E também já não é único, é igual a tantos outros diamantes.Também há pessoas que encontram os diamantes em bruto, e os admiram pela sua forma tosca, pela sua falta de brilho e pela sua originalidade única na Natureza. Apaixonam-se pelos seus defeitos, ignorando a sua possível perfeição.Para estas pessoas é impensável lapidar o diamante, pois têm medo que, ao lapidá-lo, alterem a sua forma anterior pela qual se apaixonaram. E não se interessam se o diamante agrada aos outros ou não, pois ele aos seus olhos terá sempre o mesmo valor.A diferença entre as primeiras pessoas e as segundas, é que as primeiras depois de lapidarem o diamante, este deixa de ter o valor que tinha em bruto aos seus olhos e começa a ter valor aos olhos dos outros que observam a sua beleza, contudo, perde todo o interesse para a pessoa que o encontrou. Essa pessoa deixa de gostar do diamante e passa a gostar da boa impressão que o diamante transmite.As segundas pessoas por nunca terem alterado o seu diamante, vivem eternamente apaixonadas por ele. O diamante aos seus olhos será sempre único e especial pois conhecem a sua verdadeira essência. Estas pessoas apaixonam-se pelo diamante e não pelas opiniões das outras pessoas que observam o seu diamante.Por isso quando encontrares um diamante em bruto, apaixona-te por ele, ama todos os seus defeitos, vê nele a perfeição... mas jamais o lapides...pois quando o fizeres estarás a tirar-lhe valor perante ti e a valorizá-lo perante os outros.E aí tu já não gostas do teu diamante, apenas gostas que os outros gostem dele...

Aos olhos ouro, à alma cobre...

O meu menino é de cobre e eu penso que ele é de ouro.Aos meus olhos ele brilha como ouro, é valioso como ouro, espanta como ouro, agrada como ouro...Mas às vezes não o vejo com os meus olhos, mas sim com a minha alma. E o meu menino já não é ouro, é cobre.Feio como cobre, sem valor como cobre, imperfeito como cobre, sem brilho nem interesse como cobre...A primeira vez que vi o meu menino ele era cobre. A segunda vez que vi o meu menino ele era ouro. A última vez que vi o meu menino, usei os olhos e ele era ouro, usei a alma e ele era cobre.Agora já não vejo o meu menino com a alma...Prefiro que ele seja uma miragem de ouro, que uma lembrança de cobre...

Friday, April 11, 2008

Amor curado

O meu amor já não é cego.
A loucura devolveu-lhe os olhos e abandonou-o.
Recusa-se a guiá-lo por mais tempo...

O meu amor voltou a ver!
E de tanto tempo ter estado cego
Não sabe como lidar com isto.

Com a visão perdeu a virtude do toque...
...o gosto da sensação...

O meu amor recuperou a visão.
Nunca mais voltou a ser o mesmo...

O meu amor está curado
E agora odeia a loucura.

Tuesday, March 25, 2008

Pax

Não tenho paz dentro de mim
Vivo o tumulto constante
Exigência extrema da existência
Queria deitar-me e encontrar abrigo
Um lugar seguro no meio da imundice
Procuro em vão

Quero a paz que não tenho
(Feliz aquele que dorme à noite!)
Anseio pela paz que não tenho
(Feliz aquele que ignora o mundo!)
Admiro os virtuosos que a alcançam

A fúria histéria da raiva que me consome
E tenho em mim lutas e sangue
De umas outras batalhas que não planeei travar
Que não se existem sequer

Toda a minha génese é um conflito auspicioso
Interminavelmente hediondo, profano
Contra tudo, especialmente contra mim
Enveneno-me a mim mesma em busca de solução

A minha vida é uma sátira bélica
E eu sou o objecto da comédia

Hálito a sangue

Quis ocupar um lugar que não era o meu
Por perniciosidade e capricho
De conquistar o inconquistável.
Esta é a verdade.

A mentira foi o que te disse.
Disse-te que mudei.
Disse-te que antes era infeliz.
Disse-te que vivia torturada.

Não me livrei da tortura
Simplesmente troquei o objecto da mesma
Por ti.

E assim entrei na tua vida
Planeadamente a uma Quinta-Feira
Tal e qual como fiz na vida de tantos outros
Que acabei por matar.

Deixei que me prendesses os pulsos
Deixei que me cortasses as asas
(já de si rasgadas até mais não)
Deixei que colocasses na minha boca o freio da fidelidade

Quando me apercebi que era hora de me ir embora
Percebi também que já era tarde demais para me pôr ao caminho
A vivência gera sentimentos
E o tempo cria memórias

Ai.... mas agora dói!
Olha os meus pulsos macerados!!
(Ou me tiras as amarras ou finarei em breve)
Olha as minhas asas negras esplendorosas!!
(O tempo fê-las crescer mais fortes)
Tira-me já o freio dos dentes!!!
O sabor a sangue está-me a enlouquecer.
LIBERTA-ME!!!!
Raivosa eu grito, eu quero fugir!
Sê sábio, liberta-me!

Sabes que se me libertares cairei em desgraça de novo
Sabes que preciso de ti, pilar da minha existência!
Sabes que a tua calma é tudo o que me resta...
Mas também sabes que passeias na rua um demónio encarcerado
Embora julgues que o vais domar
Não se pode domesticar o que nasceu para ser selvagem
Não podes trazer luz ao que nasceu da escuridão
Admiro-te tanto por tentares
Quero tanto que consigas
Mas o sabor do sangue da minha boca
Não me deixa
E está-me a enraivecer...

Por isso liberta-me
É melhor que liberte e não me solte
Porque se me soltar
Com este sabor a sangue nos meus lábios
E as chagas do freio que aceitei levar
Serás o primeiro a morrer!

Como um pedófilo inveterado e arrependido
Pede pela castração química
Foi assim que eu pedi por este freio!
Só o quis e to pedi
Porque sabia que antes pecava
Pois por minha natureza, por minha vontade, necessidade e satisfação
Continuaria a matar.

Não tenho forças para me libertar
Ardo em ira por me ter deixado chegar até aqui
Sou presa desta compulsão
Tenho vergonha do que sou
Por isso volta a cortar-me as asas
Aperta melhor esse freio
Não quero que vejas aquilo em que me tornei
QUE FRACA! ESTOU TÃO FRACA!

Não.
Está tudo ao contrário.
E não quero que vejas isto...
"Eu amo-te. Se me amas desamarra-me..."
Agora fecha os olhos
E PREPARA-TE PARA MORRER!

Predadora

"Sou uma merda.
Um balde de merda."

Nasci com alma de predadora
E não consigo extingui-la
Banho-me em culpa
Vítima da minha protoconsciência

Guerreio comigo mesma
Para atenuar a gana que me move
Mas sem ela paraliso, estagno
E começo a desejar a morte...

Quero fugir da condenação ao tédio
Sou gravemente alérgica ao banal quotidiano
E os ferrolhos que coloquei na alma
Comem-me por dentro como uma doença auto-imune

No entanto recuso-me a aceitar
Aceitar seria admitir-me doente
Cronicamente doente, sem cura à vista
E recuso-me!

Construí uma jaula interior
Para a besta que me faz magoar
E agora o mundo está mais assustador
Desde que sinto que ela se vai soltar

Porque um padre lá por deixar de dizer a missa não deixa de ser padre...